segunda-feira, 25 de maio de 2015

Filhos e Escalada – uma combinação incrível

Bom dia!! Em especial à todas as mamães escaladoras! Para fechamento do mês de Maio, mês das mães, deixamos com vocês um relato incrível da escaladora e mãe Debora Hashiguchi que, nos conta como conciliou e concilia até hoje a maternidade e a escalada!!
Filhos e Escalada – uma combinação incrível
A escalada apareceu na minha vida como uma oportunidade de fugir das cidades e me meter no meio do mato para viver, de fato. Adorava sentir a energia dos lugares que frequentava e quanto mais longe da civilização, mais parte do todo eu me sentia.
No começo era tudo muita descoberta, um grupo de amigos se juntavam para curtir juntos, trilhas a pé, rios, cachoeiras, subir em pedras, ver as paisagens de cima fazia parte das nossas primeiras grandes aventuras. Até que um amigo trouxe a escalada para o grupo. Alguns ficaram fissurados e outros não, mas todos continuavam a se divertir juntos. Até que veio a notícia da minha primeira filha, Nisha, neste momento eu tive certeza de que a escalada entrava em stand-by. O pai da minha filha não fazia parte deste universo e minha mãe não compartilhava das aventuras de sua filha “radical”. Desta forma, a Nisha nunca participou muito deste mundo, suas aventuras se reduziam quase que apenas a passeios civilizadamente urbanos, parque, casa de amiguinhos, hotéis etc. Apesar de tudo eu estava disposta adaptar as atividades à minha nova realidade e continuei com as viagens, trilhas, cachoeiras, rios e acampamentos.

Escalar mesmo só voltei depois de 5 anos, fui a uma palestra na Pé na Trilha, onde conheci uns garotos que escalavam e no final de semana seguinte fui escalar com eles no DIB. Alguns dias depois eu fui a uma loja de equipamentos, comprar uns “presentinhos” em comemoração à minha volta ao climbing e o vendedor da loja me indicou o ginásio 90 Graus.
Nunca vou esquecer o dia em que eu entrei no ginásio, todas aquelas paredes, em tudo quanto é formato, com aquela imensidão de agarras coloridas e para “ajudar” um monte de fitas ainda mais coloridas coladas nas paredes. Eu não entendia como alguém podia entender tudo aquilo, era tudo muito confuso para mim. Mas quando entendi a lógica daquilo tudo, me apaixonei. O lugar, o ambiente, as pessoas, tudo ali era fantástico... a 90 Graus passou a ser minha segunda casa, eu não via a hora de terminar o trabalho, correr para o ginásio e ficar ali, no meio daquilo tudo.
Ali conheci pessoas que fizeram diferença na minha vida, meu marido Léo e seu grupo de amigos, com quem voltei a frequentar a rocha, agora como escaladora mesmo.
Na 90 Graus a Nisha adorava ficar pulando em cima dos crashpads, se balançando nas cordas dos top ropes, correndo pelo ginásio, se escondendo e brincando de pega-pega, mas nunca se empolgou muito com a escalada. A Nisha foi crescendo e, infelizmente, foi deixando de se interessar pela escalada. Quando eu ia para a rocha, na maioria das vezes, ela ficava na casa da avó.

Depois de 3 anos namorando, morando e escalando com o Léo, eu engravidei. Não era esperado, eu estava feliz com minha vida como estava e, no começo, foi difícil. Fiquei imaginando como seria tudo diferente dali pra frente, imaginava que muita coisa ia mudar, mas principalmente a escalada. Eu não podia estar mais certa...
Com um melhor conhecimento do esporte acabei praticando a escalada de forma segura e responsável até dois dias antes do meu filho, Luca, nascer. Quando o Luca nasceu, o ginásio foi a diferença entre voltar a escalar mais cedo ou mais tarde, voltei a frequentar a 90 Graus depois de 2 meses do parto. A volta foi rápida e me fez muito feliz. A maternidade é uma coisa doida mesmo, a gente fica feliz só de estar perto daquele serzinho que nos faz sentir tanto amor , tão pequeno, tão parte de você. Ficar com ele fazendo algo tão especial para você então... te leva ao paraíso, é onde eu jurava que estava.
O Luca ficava dormindo no carrinho enquanto escalávamos e quando ele acordava ia para os colos, da mãe, do pai e dos “tios e tias” que o adotaram, todo mundo se divertia.
Quando o Luca fez 4 meses, já estávamos prontos para ir para a rocha juntos. Por razões óbvias levávamos uma mochila de equipo e outra com protetor solar, repelente, brinquedos adequados à idade dele, um tapete grande e o carrinho de bebê. Nesta época a alimentação do Luca se baseava ao leite materno, que estava sempre à distância de um choro, na temperatura e quantidade certos.
Antes do Luca nascer as esportivas eram nossa paixão, mas depois, com um bebê a tira colo, demos preferência aos boulders pela praticidade e, além das mochilas, levávamos apenas um crashpad. Eram tardes bem intensas, duravam entre duas ou três horas muito agradáveis, felizes e cheias de conquistas para todos.

Aos poucos este universo passou a fazer parte da vida do Luca também, paus, pedras, terra, folhas e rocha começaram a criar vida e garantir a diversão. Com 1 ano de idade ele já se interessava pela brincadeira de subir as pedras e os setores se transformaram em um playground natural gigante.
Conforme o Luca foi crescendo, foram crescendo também nossas aventuras. Hoje o Luca já conheceu lugares que muitos adultos não conseguem nem imaginar estar e, infelizmente seus filhos, provavelmente, não imaginam nem existir.

Hoje, com 7 anos, o Luca curte escalar, acampar e até passar os perrengues da escalada, por isso já conheceu muitos cantinhos encantados dentro do Brasil e fora dele, lugares que parecem tirados de filmes de ficção científica, mas que, na verdade, são a mais pura realidade das belezas naturais desta Terra, que o homem insiste em esconder no meio de tanto concreto e conforto. Considero ele uma criança esperta e culturalmente muito rica. Eu sinto muito orgulho de oferecer isso a ele, orgulho dele ainda conseguir brincar com um pedaço de pau, pedra, terra, folhas, fazer sua própria exploração, usar sua imaginação.
Viajar, acampar, fazer trilhas, escalar com seu filho não é nada do outro Mundo, basta olhar de outra perspectiva, a perspectiva de um grupo onde, como qualquer outro, as necessidades mínimas em comum e as regras mínimas de boa convivência devem ser atendidas.
Nestas viagens colocamos nossos interesses ao lado dos interesses do Luca, assim ambos aprendemos e nos realizamos nestas experiências. Nunca deixamos de fazer nada com o Luca, apenas diminuímos o ritmo.


A companhia dos filhos nas nossas atividades nos fez ver a vida de um outro ângulo, incompreendido e inimaginável para a maioria das pessoas que não tem filhos, mas imensamente feliz, de um jeito que só quem é pai ou mãe é capaz de vivenciar.

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