quarta-feira, 29 de abril de 2015

Relato da Campeã Brasileira de Boulder!

O Campeonato de escalada em Boulder estava lindo esse ano. A academia On sight onde ocorreu a etapa é um lugar muito aconchegante e a estrutura está incrível, sem contar que a galera é super carismática e se faz amizades fácil por lá.
Eu e meu marido chegamos na manhã de sexta feira em Porto Alegre e passamos o dia no hotel descansando. Na manhã de sábado começou a classificatória, que foi no modelo festival, tinham 25 linhas de diferentes graduações e muito bem elaboradas pelos route seters.

Comecei o festival me sentindo bem e no decorrer da manhã fui ficando meio cansada, já tinha mandado os boulders de graduação media e me faltava entrar em algum mais difícil, valendo mais pontos, assim eu garantiria uma vaga para final. Foi então que depois de muitas tentativas e sobre a vibe da galera finalizei um Boulder azul, me classificando em segundo lugar para as finais.
Descansei e me alimentei bem durante a tarde e perto das 17:30 fui para o isolamento dos atletas. Só tinha fera na final, Anna Shaw, Andreia Rissi, Jan Cardoso, Thais Makino e Bianca Castro era intimidador olhar para o lado...rs. Foram montados 3 boulders e já durante a leitura percebi que estavam difíceis, mas visualizei bem como finalizar as linhas e foi assim que permaneci durante todo o isolamento, pensando em como resolveria os 3 problemas. 
O Boulder 1 estava na vertical e nas minhas duas tentativas cai indo para ultima agarra. O Boulder 2 foi mais tranquilo pra mim e mandei de primeira sem ter muitos problemas. Já o Boulder 3 foi mais tenso, alcancei a agarra bônus somente na segunda tentativa e não fiz Top.
Após descer do terceiro Boulder pude assistir a ultima competidora escalando, e já na hora me avisaram que se ela não mandasse o Boulder eu seria campeã, pois fui a única mulher a “avistar” uma das linhas. E foi assim que aconteceu o Bi Campeonato. Subir no podium foi muito legal e emocionante, tinham muitos amigos torcendo por mim e fizeram a maior festa. Obrigada a todos que compareceram e gritaram muito e também pelos que enviaram mensagem de força, energia e torcida. 
Estou muito feliz com mais esse resultado e só tenho a agradecer a muitas pessoas. Sozinha eu jamais teria conseguido.

Camila Macedo contou com o apoio de: Caverna Escalada Caverna Ginásio Escalada, Campo Base Ginásio de Escalada , Marumby Montanhismo, Matramba Cartucheiras, Parque Natural Braço Esquerdo , Cardoso Treinamento em altura, Escalemais.com.br, Leo Boiarski Fisioterapia

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por trás de uma cadena

Por: Ana Lígia Fujiwara
Eu nunca tive pressa pra encadenar uma via. Sou daquele tipo de pessoa que costumava ler 3 livros ao mesmo tempo... nada mais normal que ir à Itaqueri (nosso quintal da escalada) e entrar em 3 projetos no mesmo dia. Mas isso funcionava enquanto eu estava malhando os oitavos... Por causa das minhas lesões nas mãos, não posso forçar demais. Quando comecei a entrar nos nonos, tive que aprender a focar em 1 via só. Primeiro aprendizado: focar em 1 projeto
Sempre escalei para me divertir, então entrava pra tentar minhas cadenas, rindo ou conversando, despreocupada, porque a coisa era mais leve. Já no nono grau, tive que aprender a me concentrar, porque a via exigia mais do que resistência, força ou performance... eu precisava parar de escalar intuitivamente e tentar decorar a grande quantidade de detalhes... Não era só mexer o pé, depois o outro, depois as mãos e clipa. Entre um movimento e outro tinha que encaixar o calcanhar, travar a coxa, segurar o quadril e só depois costurar. Segundo aprendizado: decorar a via!
Como eu amo escalar, ir para o pico e entrar numa via só, era sofrido demais... Então o que fazer? Bora tentar encadenar essa via, pra partir pra outra... Nesse momento veio a pressão da cadena. Como lidar com isso, já que eu sempre escalei por diversão? As cadenas vinham até mim como presentes. Agora tudo mudou. Eu estou indo buscá-las. Terceiro aprendizado: lidar com a pressão da cadena!
A via toda feita e eu caindo de bobeira... Não faltava nada... Mas continuava perdendo a cadena. Foi quando o Rafa disse “você tá sólida na via... já te vi encadenar ela várias vezes... o que tá te derrubando é sua cabeça”. Eu me pressionando demais, mas me divertindo menos.
Foi quando eu li um post da escaladora Paisley Close sobre os benefícios da meditação para escalada (conheça o blog dela em paisleyanne.com). Comecei a treinar meditar antes de escalar e aprendi a acalmar minha cabeça, focar na via... e voltei a me divertir! Quarto aprendizado: meditar!
Melhorou, mas mesmo assim notei que ainda faltava algo. Percebi que eu meditava e ficava pronta pra cadena. Mas bastava eu me encordar e calçar a sapatilha, que o nervosismo tomava conta de mim. Fazia o primeiro movimento carregando a via toda nas costas... Percebi que eu precisava “dividir” a via! Fazia a saída e zerava a cabeça. Depois chegava no crux e zerava de novo. Aí vinha a costura tensa... clic... pronto! Mais uma vez zerava! Quando entrava no crux, só tinha ele pra levar comigo! Fiz assim, até que me acostumei a trabalhar minha cabeça... e a cadena veio! Presentão!! Quinto aprendizado: dividir a via!
Escalada é assim: uma paixão, um estilo de vida e sempre um aprendizado!
Fizemos um vídeo que conta um pouco da história dessa cadena. Pra quem ainda não viu: https://vimeo.com/84829402
Ana Lígia Fujiwara, mãe apaixonada do Gabriel, casada com Rafa, amor, amigo e parceiro de escalada.
Ela escala a mais de 10 anos e trabalha no EscaladaINT www.escaladaint.com.br e na Five Ten Brasil.
Apoio: Five Tem Brasil, Deuter, Hipnose - Saco para magnésio diferenciado, 4climb e Lady on Rock.

Foto:
Via Dúvida Cruel 9b
Itaqueri da Serra/SP
Créditos: Rafael Rodrigues