quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por trás de uma cadena

Por: Ana Lígia Fujiwara
Eu nunca tive pressa pra encadenar uma via. Sou daquele tipo de pessoa que costumava ler 3 livros ao mesmo tempo... nada mais normal que ir à Itaqueri (nosso quintal da escalada) e entrar em 3 projetos no mesmo dia. Mas isso funcionava enquanto eu estava malhando os oitavos... Por causa das minhas lesões nas mãos, não posso forçar demais. Quando comecei a entrar nos nonos, tive que aprender a focar em 1 via só. Primeiro aprendizado: focar em 1 projeto
Sempre escalei para me divertir, então entrava pra tentar minhas cadenas, rindo ou conversando, despreocupada, porque a coisa era mais leve. Já no nono grau, tive que aprender a me concentrar, porque a via exigia mais do que resistência, força ou performance... eu precisava parar de escalar intuitivamente e tentar decorar a grande quantidade de detalhes... Não era só mexer o pé, depois o outro, depois as mãos e clipa. Entre um movimento e outro tinha que encaixar o calcanhar, travar a coxa, segurar o quadril e só depois costurar. Segundo aprendizado: decorar a via!
Como eu amo escalar, ir para o pico e entrar numa via só, era sofrido demais... Então o que fazer? Bora tentar encadenar essa via, pra partir pra outra... Nesse momento veio a pressão da cadena. Como lidar com isso, já que eu sempre escalei por diversão? As cadenas vinham até mim como presentes. Agora tudo mudou. Eu estou indo buscá-las. Terceiro aprendizado: lidar com a pressão da cadena!
A via toda feita e eu caindo de bobeira... Não faltava nada... Mas continuava perdendo a cadena. Foi quando o Rafa disse “você tá sólida na via... já te vi encadenar ela várias vezes... o que tá te derrubando é sua cabeça”. Eu me pressionando demais, mas me divertindo menos.
Foi quando eu li um post da escaladora Paisley Close sobre os benefícios da meditação para escalada (conheça o blog dela em paisleyanne.com). Comecei a treinar meditar antes de escalar e aprendi a acalmar minha cabeça, focar na via... e voltei a me divertir! Quarto aprendizado: meditar!
Melhorou, mas mesmo assim notei que ainda faltava algo. Percebi que eu meditava e ficava pronta pra cadena. Mas bastava eu me encordar e calçar a sapatilha, que o nervosismo tomava conta de mim. Fazia o primeiro movimento carregando a via toda nas costas... Percebi que eu precisava “dividir” a via! Fazia a saída e zerava a cabeça. Depois chegava no crux e zerava de novo. Aí vinha a costura tensa... clic... pronto! Mais uma vez zerava! Quando entrava no crux, só tinha ele pra levar comigo! Fiz assim, até que me acostumei a trabalhar minha cabeça... e a cadena veio! Presentão!! Quinto aprendizado: dividir a via!
Escalada é assim: uma paixão, um estilo de vida e sempre um aprendizado!
Fizemos um vídeo que conta um pouco da história dessa cadena. Pra quem ainda não viu: https://vimeo.com/84829402
Ana Lígia Fujiwara, mãe apaixonada do Gabriel, casada com Rafa, amor, amigo e parceiro de escalada.
Ela escala a mais de 10 anos e trabalha no EscaladaINT www.escaladaint.com.br e na Five Ten Brasil.
Apoio: Five Tem Brasil, Deuter, Hipnose - Saco para magnésio diferenciado, 4climb e Lady on Rock.

Foto:
Via Dúvida Cruel 9b
Itaqueri da Serra/SP
Créditos: Rafael Rodrigues


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